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11 outubro, 2010

Dia da criança ou criança todo dia?

DIA DA CRIANÇA OU CRIANÇA TODO DIA?



Infelizmente, há datas que têm sua finalidade deturpada pelas pessoas. Assim é o dia da criança. Fala-se muito da criança, dá-se muitos presentes, mas no resto do ano, as pessoas não se fazem presente na vida das crianças.



Muitas crianças gostariam, ao invés de um presente uma vez por ano, que as pessoas estivessem presentes em suas vidas diariamente. E não venha justificar-se com a correria do dia a dia, pois presença não se faz somente pelo tempo dedicado (quantidade), mas pela intensidade (qualidade) do tempo em que se dedica a alguém.



Isso lembra aquela história do pai que nunca tinha tempo para seu filho, pois era um mártir do trabalho, a fim de dar a família condições dignas de vida. Mas toda noite passava pela cama do filho, acariciava-o, dizia-lhes umas palavras afetuosas e deixava um nó no lençol, como prova de que esteve ali por alguns segundos.



Também lembro-me de um fato recente (julho de 2010), ocorrido com uma aluna minha, na formatura do PROERD: seu pai, caminhoneiro, trouxe a filha até a porta da escola, abraçou-a profundamente, disse ter muito orgulho dela, mas que não daria para ficar na formatura, pois tinha que descarregar o caminhão. Esse pai disse também que a mãe da menina, já falecida, com certeza estava muito orgulhosa, vendo tudo do céu. Essa menina, sorridente e alegre, sempre tem seus pais presentes em seu coração. Por isso mesmo é uma aluna que se destaca no aprendizado e no comportamento, como outros também.



Nestes mais de dezesseis anos de docência, tive várias  outras experiências de pais e mães que poderia argumentar que não tinham tempo a seus filhos (e não tinham mesmo, se levarmos em conta o tempo cronológico), mas davam o máximo de si: mães analfabetas que reservavam alguns segundos suados para ver os cadernos dos filhos e fazer elogios aos progressos que viam e sentiam ali, mesmo não sendo capazes de ler o que estava escrito; pais que, mesmo cansados do trabalho, eram capazes de beijar a mulher e os filhos, que não tinham dinheiro para dar presentes, mas estavam presentes.



Preferi dar esses exemplos positivos, mas quero lembrar também daqueles pais que nunca estão presentes, mas fazem questão de encher os filhos de presentes e nunca dão-lhes uma palavrinha de carinho, nem uma correção afetuosa quando os filhos erram; aqueles que são apenas motoristas, levando a criança à escola ou catequese, e nunca se preocupam em perguntar aos educadores como suas crianças estão; aqueles que renegam a criança na frente de todos, como se ela fosse consequência de um aborto mal sucedido - infelizmente, atendo vários casos assim onde leciono.


O extremo dessa omissão toda também é prejudicial, como aqueles que querem corrigir os filhos de qualquer modo, inclusive humilhando-os ou espancando-os, quando não explorando ou abusando;ou formas mais sutis, como a superproteção, que tira a iniciativa da criança em agir. Tudo isso – omissão e certas ações, são formas de negligência, de crueldade.



E o que falar daquele tipo que só visita a criança (tanto em seu lar, como no orfanato), somente no dia 12 de outubro? Ou que percorre as ruas, nessa mesma data, distribuindo presentes e guloseimas, mas nos outros dias faz questão de cuidar bem de seu “totó” e gritar em altos brados “morte e cadeia aos menores abandonados”?



Em meio a tudo isso fico muito feliz com iniciativas de pessoas e entidades que tratam da criança o ano todo. Os padres Rosalvinos, Robertos, Julios – e tantos outros, que estão ali, com as crianças diariamente, em suas necessidades, fazendo-se presença viva e atuante, muito mais do que pais. E também os pais que citei anonimamente no incio deste texto. De pessoas assim, presentes o ano inteiro, verdadeiros presentes na vida das crianças.


E termino dedicando um carinho especial à todas as crianças que nestes  mais de dezesseis anos de Educador passaram por mim (e as que passam, e aquelas que passarão), sobretudo as mais problemáticas, com seu jeito de gritar por socorro. Agradeço a Deus por colocá-las em meu caminho, pois tenho consciência de que estou servido a Ele nelas.



Que Deus continue dando-me forças para que eu seja capaz de fazer a diferença na vida das crianças, diariamente, e não somente no dia 12 de outubro. Bênçãos também a eles, meus colegas educadores (inúmeros e anônimos) que dedicam-se às crianças. E, claro, bênçãos também aos inúmeros Rosalvinos, Robertos e Júlios que me mostram que o caminho é a Educação.



Minha gratidão a todos!


João César
12 de outubro de 2010.
http://pazeduca.pro.br/profjoao

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Breves notas explicativas, de nomes citados no texto:


"Roberto": Referência ao padre Roberto, da Congregação de Santa Cruz, (família religiosa fundada pelo padre Moreau, conhecida em São Paulo pelo colégio de mesmo nome) que mantém vários núcleos socio-educativos no bairro do Jaguaré, atendendo aproximadamente 800 crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social.




"Rosalvino": Padre Rosalvino, sacerdote salesiano (congregação fundada por Dom Bosco) que possui um enorme e belíssimo trabalho sócio-educativo no bairro de Itaquera.




"Júlio": Padre Júlio Lancelotti, atuante junto a menores abandonados, crianças aidéticas e moradores de rua, por isso mesmo invejado e perseguido por muitos. Atua sobretudo na zona leste paulistana.

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